Há cinco anos, comecei como hobby fotografar a natureza aqui
do sítio onde moro. Não é uma área muito grande (pouco mais de 20.000m2),
mas está em uma região de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado e, por
causa disso, encontramos um bom número de indivíduos tanto da fauna quanto da
flora desses ecossistemas.
Fotografar começou como hobby, um tempo para fugir,
geralmente nos finais de semana, do estresse de minha dupla jornada de trabalho
e tomou tal dimensão que tornou-se uma das minhas paixões.
Não tenho técnica no manejo com a câmera, sou amadora, mas o
grande fascínio desta excursão pelo terreno são as inúmeras descobertas que
este tempo tem me proporcionado. São momentos mágicos, sinto uma conexão com o
todo, um respeito por cada vida que contemplo e registro, uma gratidão imensa
ao mistério da vida. O registro de um ser em plena existência na Terra me
emociona. Agradeço a cada espécie quando consigo uma foto que me encanta. Há momentos que
parecem que os animais fazem pose para mim: voam ao redor, aproximam-se, mudam
de posição, até conseguir uma que me surpreende e fascina. Tantas vidas únicas que ficam no registro. O instante que fica na memória. Os sentidos que afloram.
Eu denomino esses momentos de conexão com o divino. Cada um
de nós ali, tão pequeno, diante deste universo maravilhoso e imenso, mas cada
vida tão significante, única, especial. Tudo o que há versa essa humildade
maravilhosa de sermos todos dignos do olhar que ama. É minha forma de orar. De
agradecer pela perfeição desta obra e de nos questionarmos o nosso papel e
nossa responsabilidade frente aos ideais que todas as religiões anunciam. Amar
ao próximo.
O que a gente vê muitas vezes, é que essa conexão com o
divino, muitas vezes não se alicerça nos ideais que deveriam nos reger. Para
mim, são muitos: respeito à história de cada um, às diferenças, tolerância,
compreensão, perdão. Não é fácil para nós, mas deveria ser uma tarefa
diariamente praticada.
A existência, como versou Gonzaguinha, "um divino mistério profundo, o sopro do criador numa atitude repleta de amor". Talvez seja este nosso grande desafio na vida: amar, agirmos em prol de um mundo mais justo e mais fraterno, mesmo quando esse mesmo
mundo nos mostra tantos envolvidos em barbaridade, tantos valores embasados somente
no aqui-agora, no ganha-ganha a qualquer preço, no individualismo. Temos que acreditar
que muitas pessoas, em atividades diversas, continuarão, crescentemente a
semear esses ideais da Paz, de forma que, em um futuro bem próximo, a
pacificação esteja em pauta em todas as esferas sociais. Pressentir que temos
uma responsabilidade neste sonho e, como bem sabemos, cada um tem o livre arbítrio
para escolher seus caminhos.
Fico feliz em viver em uma sociedade onde muitos sonham com a
Paz. Já assistimos a tantos avanços: a busca pela resolução de conflitos pelos
meios pacificadores é um campo de estudo e ação crescentes.
O maior desafio para todos nós é o berço dessa cultura: o
nosso próprio olhar e agir sobre o outro e nós mesmos. Como pedras brutas,
quanto cada um de nós precisa se lapidar. Uma tarefa árdua. Requer, por
exemplo, a renúncia ao nosso ego inflado, para reconhecermos em cada outro, a
mesma valorização que todos devemos ter. Demolições de paradigmas impregnados
de preconceitos, tão distantes do que realmente enlaça o homem de forma íntegra
ao mundo. Fim da cultura do ódio e nascimento de um ideal de justiça reparadora
e, não somente, punitiva.
A natureza, para mim, é isso: um elo que nos liga a tudo o
que há. Agradeço a Deus pelo ar que respiro, a brisa que balanças as árvores
nestas caminhadas, os inúmeros seres que me presenteiam com sua breve presença,
pelo curso da vida, as mudanças de estação, o caminho que ainda há pela frente, as
descobertas a serem realizadas, sonhos a edificar, trabalhos a construir...
Cláudia Pinheiro Camargos.