Elas estão a toda, na maior
algazarra. A gritaria é tanta, que muitas vezes a gente tem vontade de por um
tampão nos ouvidos. O som que emitem – agudo, alto, estridente como um apito –
é, na verdade, um chamado para acasalamento emitido pelos machos. Esse chamado
pode chegar a 120 decibéis, densidade de som tão alta que se aproxima do limiar
da dor no ouvido humano.
As cigarras têm pouco predadores
(também, com essa gritaria toda, não há predador que suporte). Quando adultas
são alimentos para pássaros. Porém, o som alto que emitem além de atrair uma
parceira e incomodar os ouvidos humanos, repele os pássaros. Isso porque a
cantoria das cigarras, também, é dolorosa aos ouvidos dos pássaros,
interferindo na comunicação que as aves fazem entre si e dificultando os
ataques dos pássaros ao grupo das cigarras.
Nem as próprias cigarras aguentam
seu canto! Tanto os machos quanto as fêmeas possuem um tampão natural para se protegerem do som alto que
emitem: um grande par de membranas que funcionam como orelhas e se dobram
quando os machos emitem o som alto para não provoquem danos aos tímpanos.
Espertinhas, não? Quem não tem esse tampão de ouvido natural, tem que se virar
como pode.
As cigarras nascem de ovos.
Surgem pequenas e sem asas e, nesse estágio, são chamadas de ninfas. Ao tocarem
o chão, as ninfas enterram-se no solo e permanecem debaixo da terra por vários
anos, alimentando-se, enquanto se desenvolvem, da seiva sugada de raízes de
plantas. As espécies brasileiras vivem no solo durante um ou dois anos. Em
países, como nos Estados Unidos, há espécies de cigarras que vivem no solo até
17 anos.
Na fase de ninfa, seus maiores
predadores são besouros, tatus e formigas predadoras que vivem no solo. Por
causa disso, muitas cigarras não conseguem chegar à fase adulta.
As que sobrevivem a esse período
e alcançam o tamanho adulto, cavam a terra de volta para a superfície. Elas vêm
à tona ao anoitecer, no final da primavera ou no início do verão. Elas sobem
até algum lugar mais elevado e trocam de pele pela última vez. Esse processo de mudança do exoesqueleto nos animais que apresentam esse modo de crescimento (como as cigarras) é chamado de ecdise ou muda.
Ecdise ou Muda
Muitas pessoas ao encontrarem a
casquinha da cigarra grudadas em árvores, acreditam que a coitada “explodiu” de
tanto cantar. Essa história não passa de uma lenda. Do jeito que elas deixam a
casca – com aquela abertura no meio – realmente, dá mesmo essa impressão. Mas
essa casca, na verdade, não passa de uma velha roupagem e indica apenas que
aquela cigarra passou da fase de ninfa para o estágio adulto. O nome certo dessa casca é exúvia - o exoesqueleto deixado pelos artrópodes quando realizam uma muda (ecdise).
Ecdise ou Muda
Exúvia
Agora são cigarras adultas, com
asas. Sua alimentação continua sendo a seiva das plantas, que, agora, é sugada
do caule e das folhas.
Cigarra logo após deixar a exúvia.
Após endurecer a nova cutícula, a cigarra está pronta para a vida adulta!
Quando chega à vida adulta, a cigarra não tem muito tempo para aproveitar a nova fase, não! Fora do solo ela vive apenas de dois a três meses.
Texto e fotografias: Cláudia Pinheiro Camargos
Referências bibliográficas: