domingo, 26 de fevereiro de 2012

A morte da abelha




Ontem, novamente, fotografei uma abelha morrendo agarrada em um galho dessa planta de flores roxas e frutos alaranjados, que os insetos daqui tanto apreciam.






Digo que esse fato se deu "novamente", porque em 2010, descobri, em algumas ocasiões, abelhas grudadas em um galho já mortas ou moribundas, contorcendo-se lentamente, já sem qualquer vitalidade. 

Na maioria das vezes, não fotografei o fato pelo impacto e o mal-estar que me causou. Mas, ainda naquele ano, depois, resolvi registrar o que via e escrevi um texto.

A abelha de ontem trouxe-me de volta ao meu texto, que compartilho agora:


O último beijo...

Meses atrás, enquanto fotografava, encontrei uma abelha inerte no ato de sugar uma flor. Aproximei-me o suficiente para perceber que ela estava morta.
A primeira vez que vi uma abelha assim causou-me impacto. Não fotografei. Afinal, o meu prazer é fotografar a vida e, no caso dos insetos, a vida passa por um lampejo para nós, humanos, com certeza, num ato bem mais receptivo por nós, que a nossa própria existência frente à grandiosidade do universo.
A tranquilidade da abelha morta me surpreendeu. Ela não simplesmente caiu ao chão, após um último voo.... ela morreu num beijo... o último beijo... um beijo de adeus.
Depois dessa, vi outras abelhas mortas, agarradas ou em uma flor ou em uma folha, sempre, com aquele aspecto de um corpo abandonado, após cumprir sua missão, num último abraço à beleza da vida...
Fotografei uma abelha, que, morosamente, deliciava-se numa flor. Ela estava viva, mas de uma forma estranha, não voava como as outras. Delicadamente, deleitava-se sobre a flor... por vezes, parecia dormir... aí, novamente, acariciava a flor, como quem usufruía de um mágico momento, talvez o derradeiro da vida.






Não fiquei para ver o desfecho do ato... não a vi voar... não a vi morrer... Como minha própria poesia, após as lentes de minha câmera sorveram àquela luz, eu a deixei na grandiosidade de sua vida...




Hoje, mais uma vez, encontrei uma abelha, agarrada a uma folha. A primeira sensação foi de choque. Definitivamente, não lido bem com coisas mortas. Depois, voltei procurando-a entre a folhagem, decidida a clicar, como instante mágico, não somente a vida, mas a beleza de como a vida pode se encerrar.
Era como se a abelha soubesse que aquele seria seu último beijo...  




Cláudia Pinheiro Camargos

Nenhum comentário:

Postar um comentário